Prévia Festival Consciência Hip-Hop em Primavera do Leste
CUFA, TABU e TOTEM.
A CUFA (central única das favelas) de Primavera do Leste realizou em 16/17 de agosto do corrente, uma ‘prévia’: “FESTIVAL da CONSCIÊNCIA HIP HOP”, tendo como ponto alto o ícone de projeção internacional desta cultura que caminha em direção a uma pulverização cultural, abrangendo cada vez mais as populações periféricas e vulneráveis, em um trabalho de ativismo social de índole democrática-universalizante.
Para tanto, contou com os patrocínios da Secretaria de Cultura do Mato Grosso, e de forma muito especial pela Secretaria Municipal de Educação, na pessoa de seu titular o advogado Antonio Nogueira, fruto de seu empenho e dedicação; a efeméride contou com a presença do Sr. Prefeito Municipal Getúlio Viana, o qual acompanhou o evento com vivo interesse, tendo inclusive participado dos debates nos temas abordados, tendo sido elogiado pelo palestrante e ativista MV BILL, pelo fato do mesmo ter permanecido no recinto durante todo o tempo do evento, que durou cerca de três horas, o que não é comum entre a classe.
O evento contou também com a parceria e patrocínio das Faculdades UNICEN, que ofereceu suas modernas instalações, no caso o recém inaugurado ‘Ginásio de Esportes’, o qual foi tomado completamente em suas instalações. Um público composto de toda gama de pessoas e perfis sociais de nossa cidade e região (como Cuiabá, Rondonópolis, Poxoréu, Campo Verde, Paranatinga e outras). Foi visível o contentamento do mantenedor desta Instituição de Ensino e anfitrião desta memorável festa de cidadania, ao ver sua “casa” completamente tomada por convidados interessados em conectar e debater importantes temas de nossa sociedade, em um espetáculo de cidadania exultante, onde se procurou oxigenar a onda preconceituosa que permeia nosso meio e em especial nossas classes sociais com relação a cultura Hip Hop.
Durante os preparativos do evento, como membro da CUFA, somado a alguma experiência no campo da Sociologia, pude acompanhar as dificuldades que nossa equipe encontrou em algumas ocasiões envolvendo TABUS que estão entranhados no inconsciente coletivo.
Em alguns casos os membros da CUFA foram impedidos de colocar cartazes sobre o evento, em casas comerciais, sob a argumentação de que não apoiavam o evento e este movimento social, em virtude de cultivarem uma pré-concepção de que se trata de alguma forma de manifestação de malandragem e acoitadores da bandidagem, traficância e outros crimes comuns na contemporaneidade. Outros consentiam por educação, mas ato contínuo a retirada dos colaboradores, os cartazes eram imediatamente suprimidos.
Quer queiramos ou não, há este TABU arraigado em um atavismo cultural secular do qual não conseguimos nos desvencilhar, dificultando, desta forma, as iniciativas que buscam exorcizar este mal que se encontra entranhado na nossa malha social.
Na Antropologia Social encontramos uma pedagogia em que aos TABUS sempre aparece uma força opositora que funciona como um antídoto ou ‘amortecedor de impactos’ que se denomina TOTEM.
Desde a aurora da humanidade, até as populações primitivas (autóctones) remanescentes, há o rito em que envolve a luta do bem contra o mal, consubstanciado na filosofia intitulada maniqueísta, que sistematiza a oposição do ‘bem contra o mal’.
A linguagem e a atitude preconceituosa, no caso o TABU, é aceita por todos intelectuais como ‘a forma mais nociva nas relações’, do qual seio só se pode esperar a fermentação do ódio e violência. Talvez em poucos momentos da história conhecida da humanidade estivemos diante a um momento da emergência da violência, onde os gestores públicos, na sua costumeira miopia e ignorância, sempre procuram buscar soluções no aumento do contingente policial onde transformam uma questão social em uma simples conta matemática: uma equação.
Após a exibição do documentário ‘Falcão, os meninos do tráfico’, de autoria do BILL e de Celso Ataíde. No espaço aberto para perguntas, tivemos uma verdadeira lição de cidadania. Ao contrário do que muitos pensam e nutrem (Tabus), as respostas e assertivas do ativista da CUFA, onde se mostrou dono de uma posição de elevada civilidade, não demonstrando em nenhum momento, sequer uma pitada de agressividade. Suas colocações foram se escoando sempre com muita tolerância, coerência e principalmente, com simetria. Em nenhum momento fustigou as oligarquias e o sistema com severidade. Mostrou um modelo comportamental pautado no diálogo produtivo, sem fomentar a revolução, o ódio, ou o rancor histórico que impregna um passado histórico de opressão e exclusão. Naturalmente, tratou com toda seriedade que a questão exige, sem, em nenhum momento apresentar-se antipático e agressivo diante as eternas elites dominantes e oligarquias que sempre dominaram o poder, em detrimento das populações periféricas.
A postura do ativista chamou a atenção pela elegância, sem nenhum viés de empáfia, como é contumaz em muitas outras lideranças, e sobriedade com que tratou seus interlocutores, em um raro espetáculo de democracia e mútua tolerância, pois o núcleo duro das propostas da CUFA passa pelo diálogo, pelo aproveitamento de idéias de todos os segmentos, visando uma construção de uma existência comunitária alicerçada em parcerias da nossa rica pluralidade cultural, com respeito e participatividade cidadã. Ainda, demonstrou alta civilidade ao mostrar uma postura política da entidade de consciência, onde não aceitam buscar o poder público com um ‘chapéu na mão’, mas sim, reinvidicando direitos legítimos, com o alto teor pacificador da não agressão e confrontação, tudo com muito respeito, sem, contudo perder a dignidade de pessoa humana cônscia de seus direitos cívicos.
BILL apresentou-se como um TOTEM, um antídoto ao TABU dominante, ao se mostrar pessoa com um perfil de líder carismático que encantou a maior parcela das pessoas que o conheceram, sedimentando, desta forma, o lugar que conquistou junto a instituições internacionais, como a ONU, e o projeto Criança Esperança/Globo, sendo respeitado por todos os lugares por onde passou.
Esperamos que o TOTEM tenha exorcizado o TABU que permeia parcela significativa de nossa sociedade, o que não atingiu às pessoas, na sua totalidade, pois no show de encerramento pude constatar que uma pessoa da comunidade fez a colocação que o espetáculo de MC que estava se escoando na Praça de EVENTOS, não passava de uma ‘apologia’ do crime, em conversa com um caro amigo que trabalha com música em eventos oficiais, o qual respondeu que a pessoa fosse para casa, caso não estivesse gostando. Não sei por que este munícipe não fez esta observação para mim que estava bem ali ao lado? Caso esta pessoa esteja lendo este texto, convido-a, primeiro a limpar os ouvidos da ‘intolerância-cêra’ que os entope, ou produzir um texto ‘fundamentando’, pelas letras das músicas exibidas, onde conseguiu ‘enxergar uma exaltação ao crime’, que não o fragoroso oposto, ou, refugie-se no cômodo anonimato dos ignóbeis!
Um triste espetáculo de idéias pré-concebidas e intolerância crassa e ignara que campeia por nossas plagas, como uma praga!
(jci docente da Unicen) Confiram a galerias de fotos:
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