Ponto de Vista
Confira nossa primeira materia: CUFA EM PRIMAVERA?
Ao conversar com um amigo, pessoa proeminente na nossa cidade, e ao dizer-lhe que havia estabelecido contato com o pessoal da CUFA de Primavera, qual não foi o espanto desta pessoa que me perguntou admirado: ‘...em Primavera?’. Ao aprofundar o diálogo fui logo percebendo a imensa dificuldade que haverei de encontrar para ‘vender’ a idéia da aceitação da cultura embutida no bojo deste projeto nacional que é a CUFA, para certos segmentos sociais de nossa cidade. Meus alunos do curso de Direito bem sabem como foi árdua a tarefa de passar o valor e o respeito que os Movimentos Sociais possuem, quebrando paradigmas e preconceitos por demais arraigados em uma sociedade tradicional, bem ao estilo europeizado do sul do nosso país.
Sinto a necessidade de partir do marco zero, para dialogar com meus leitores, apresentando-lhes o que é a CUFA, seus planos, anseios, e valores. Na centralidade do discurso, pretendo trazer a constatação de que não se trata de mais uma vertente de contracultura, senão, uma manifestação cultural legítima da periferia, a qual não afronta nenhum valor das populações acomodadas e aninhadas em ilhas de conforto econômico-social já estruturada. A pretensão seria a de concluir pelo ganho das duas partes, onde, a sociedade tradicional seria beneficiada com a inclusão social de populações periféricas vulnerabilizadas pela própria condição sócio-cultural-econômica; com medidas voltadas para a includência e desenvolvimento das múltiplas possibilidades dos dons a serem potencializados aos membros desta comunidade periférica. Tal fomento afastaria das ruas os jovens vulneráveis aos fenômenos principalmente das drogas e dos malefícios que lhe lhes são peculiares. Com isto, a diminuição da violência passa a ser uma colheita certa, com os benefícios de aumento de qualidade de vida e de fomento de melhoras ao meio ambiente, já que é sabido que a harmonia é um dos componentes principais do ‘meio ambiente’.
A CUFA é uma sigla que significa ‘Central Única das Favelas’, que ganhou grande repercussão após a exibição do documentário “FALCÃO, os meninos do tráfico” produzida deste o Rio de Janeiro, pela CUFA, sob a orientação do Rapper MV Bill. Este documentário nos mostra a triste realidade do mundo da distribuição das drogas que se utiliza de jovens, muitos com apenas 12 anos, contudo, o pano de fundo é muito triste de ser constatado, pois eles entram ‘nesta vida’ por pura necessidade! Pois bem, o papel da CUFA passa por esta constatação, procurando trazer medidas saneadoras desta crescente realidade.
As ações da CUFA plasmam em uma interação com estas populações utilizando uma linguagem própria das pessoas periféricas. Promovem atividades educacionais, esportivas, sócio-culturais e outras formas de abordagem e aproximação, sempre visando afastar os jovens da universidade dos becos e ruas degradantes, oferecendo em troca, uma vivência bem ao gosto e uso deste público alvo. Para atrair estes jovens, a melhor maneira é a de oferecer bens culturais que lhes são próximos e de assimilação fácil, como a cultura ‘Hip Hop’, que englobam vertentes como o MC, GRAFFITE, BREAK, DJ’s basquete de rua, e outras atividades.
A sigla MC significa ‘mestre de cerimônias’, uma espécie de cantor-compositor, que declama uma poesia procurando casar o som da música, com a composição. O MC precisa ser pessoa de grande sensibilidade para passar, com sua poesia, o cotidiano da periferia, falando de suas agruras, dos problemas da difícil sobrevivência, do assédio dos traficantes, das incertezas da polícia, dos achaques dos maus policiais (que não são poucos), os quais muitos deles, pertencem aos grupos de extermínio, que ‘vendem proteção’ aos comerciantes locais.
Contudo, há que considerarmos que a manutenção dos grupos de extermínio depende da existência dos ‘bandidos’, por isto, é necessário continuar fomentando a formação de novos ‘marginais’, para poderem ser caçados, para gerar ‘renda’ pela venda de ‘proteção’, aos ‘honestos comerciantes’ e pessoas moradoras das periferias. O leitor compreende perfeitamente, que quando se exterminam todos ‘bandidos’, a fonte de lucratividade dos ‘exterminadores’ se esvai, por isto, para manter o círculo vicioso, é necessário fomentar o aparecimento de novas ‘vítimas’: jovens bandidos. Daí a triste realidade destes maus policiais ‘fazerem vistas grossas’ para a formação de neófitos do crime. Pois bem, uma das funções destes poetas cantores, os MC é a de denunciar esta cruel realidade.
Na outra ponta da linha, temos a imprensa sanguessuga que se alimenta deste amálgama nojento; exemplo notório do fenômeno são os programas do estilo ‘cadeia’, que tanto proliferam. O que é mais incomodativo é que tais aberrações televisivas atraem principalmente as populações periféricas. De tal miséria humana, valem-se maus políticos, que abusam da ignorância e fé públicas, elegem-se como representantes do ‘povão’, são os políticos chamados populistas, que arrastam multidões carentes.
Caro leitor continua na próxima coluna...Matèria feita por: José Carlos Iglesia
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